Nessas últimas semanas do ano eu tenho visto algumas instalações nas praças de BH que me fizeram lembrar do Another Green World, disco lançado pelo multinstrumentista, produtor, criador das estratégias oblíquas, etc, etc, etc Brian Eno.
Parêntesis explicativo para quem até hoje achava que Eno era só um Sal de Fruta:
(Vale a pena correr atrás da obra do cara... pode ter certeza que muito do que vocês escutaram tem o dedo do cara no meio. Alguns exemplos? Os 2 primeiros Roxy Music, nos quais ele era membro da banda, a famosa Trilogia de Berlin do Bowie (Low, "Heroes" e Lodger), na qual ele compôs e tocou (aliás, ele praticamente mudou o som do Bowie), produzindo os primeiros discos do Talking Heads, os primeiros solos do Peter Gabriel, os discos mais importantes do U2 (Joshua Tree, Atchung Baby, etc), os últimos discos do Coldplay e mais um monte de outras bandas. Até o som que você escuta ao ligar seu computador (se estiver usando o Windows e estiver com o som padrão) foi o cara quem compôs... isso mesmo, o tal do Microsoft Sound foi ele quem compôs.)
Voltando aos querubins:
As tais instalações são uns anjos preenchidos em formas geométricas com cores vivas e na hora que eu bati o olho no primeiro deles a primeira coisa que me veio na cabeça foi... tá bom, a segunda coisa que me veio a cabeça (a primeira foi pensar: "que raios esse anjo psicodélico de 10 metros tá fazendo no meio da praça?") foi a capa do AGW, um detalhe da obra "After Raphael" do artista Tom Phillips, especialista em colagens e que já havia contribuído em algum filme do Peter Greenaway, além de ter sido professor do Eno na época em que este estudava na Ipswich School of Art.
Me lembro da primeira vez que eu escutei esse disco, uma das obras mais idiossincráticas de Mr. Eno. Estava estranhando demais o som da bolacha. Acostumado apenas com seu art-rock glam do Roxy Music e com suas duas primeiras excelentes investidas (Here Comes the Warm Jets e Taking Tiger Mountain) estava meio que sem entender o que tinham sido as duas primeiras faixas. Até que na terceira, chamada St. Elmo's Fire, me aparece aquela que eu considero uma das mais distintas guitarras do rock. Nem precisei olhar na contracapa do vinil o nome do responsável pela maravilha. Já virei pro meu pai e falei: "se isso não for o Fripp tocando, é alguém o imitando bem prá caramba!". Um solo melódico e maravilhoso que me fez querer viajar nos sons mais difíceis escondidos em cada uma das várias arestas desse disco.
Aos poucos, saquei que os dois primeiros do Eno foram mais ou menos como uma transição do som no formato pop/rock da era-Roxy para algo musicalmente mais complexo e discreto. Exemplo disto é que o disco contém 14 faixas, sendo apenas 5 com vocais, o que o torna bem menos acessível para uma grande quantidade de ouvintes. Na verdade com o AGW, na minha opinião, o lance do Eno foi tentar desconstruir a música pop e reconstruí-la novamente, de uma forma mais discreta, criativa e inusitada. Utilizando uma enorme gama de instrumentos e sonoridades, são criadas texturas até então nunca antes vistas na música pop.
Uma das principais sacadas do Eno no disco foi tentar subverter a idéia de existir um narrador, uma voz nas músicas. Ele já começa a primeira faixa, Sky Saw, fazendo uma alusão à esta idéia:
"All the clouds turn to words
All the words float in sequence
No one knows what they mean
Everyone just ignores them"
E logo na seqüência, emplaca a impagável seqüência non-sense:
"Mau Mau starter ching ching da da
Daughter daughter dumpling data
Pack and pick the ping-pong starter
Carter Carter go get Carter
Perigeeee
Open stick and delphic doldrums
Open click and quantum data"
O que nos primeiros discos, já dava um sinal do caminho que seria tomado por Eno, aqui fica claro. As letras simplesmente não fazem sentido algum. E isto tinha um motivo. O cara estava viajando mais no lance da fonética do que no da semântica, ou seja, se soava bem, está ok! Eram as palavras sendo incorporadas como notas de um novo inusitado instrumento.
Não vou ficar aqui destrinchando faixa por faixa, senão esse texto ficaria 13 vezes mais longo do que já está de tanta coisa que eu poderia falar só dos 1:28 segundos da faixa título.
O produto final é um rebento eletro-minimalista, de um artista que está se despregando dos conceitos vigentes da música pop e incorporando elementos dos experimentalismos de caras como John Cage, Karlheinz Stockhausen e Hugo Ball. Ou seja, o disco está no ponto de equilíbrio entre o pop e o experimental.
Se vocês curtem tanto rock and roll, quanto eletrônico (o cara é considerado um dos pais do gênero hein... talvez sem a contribuição dele, trances e raves poderiam ser bem diferentes...) tentem arrumar esse disco prá escutar: comprem, baixem, peguem emprestado ou roubem (que não seja o que tem lá em casa, blz?)!
Com certeza o Another Green World não é um disco que é facilmente digerido.Dificilmente vai lhe satisfazer na primeira audição. Mas quem disse que as melhores coisas são as que são fáceis de gostar e de entender? Tal qual um enorme quebra-cabeça, o disco exige paciência e concentração do ouvinte. Para que este consiga finalmente entrar em um delicioso caleidoscópio sonoro, onde um gênio nos convida para uma viagem introspectiva e sutil, na qual consegue, utilizando-se apenas de sons, pintar uma obra de arte.
por I’m Not (T)here
algumas curiosidades sobre o AGW:
- dá uma olhada em alguns dos caboclos que aparecem no disco:
John Cale (Velvet Underground)
Robert Fripp (King Crimson)
Phil Collins (Genesis)
- lista de instrumentos tocados no disco:
synthesizer, bass guitar, guitar, percussion, drum machine, various pianos, keyboards, hammond organ, farfisa organ, vocals(aqui são instrumentos sim!), yamaha bass pedals, tapes, viola, drums, fretless bass, fender rhodes piano, bass, snare drum
ainda tem a tal da Wimshurst guitar, aquela do Fripp a qual eu me referi lá em cima... o nome dela vem do Wimshurst Generator, um aparelho que gera uma corrente elétrica de alta voltagem entre eletrodos e emite um som imprevisível. Segundo o Eno era como o som dessa guitarra soava.
- o site especializado em indie rock Pitchfork Media colocou o disco no 10º lugar do seu Top 100 Discos dos anos 70. O disco também está na lista dos 500 melhores discos de todos os tempos da revista Rolling Stone, na posição 433.
Parêntesis explicativo para quem até hoje achava que Eno era só um Sal de Fruta:
(Vale a pena correr atrás da obra do cara... pode ter certeza que muito do que vocês escutaram tem o dedo do cara no meio. Alguns exemplos? Os 2 primeiros Roxy Music, nos quais ele era membro da banda, a famosa Trilogia de Berlin do Bowie (Low, "Heroes" e Lodger), na qual ele compôs e tocou (aliás, ele praticamente mudou o som do Bowie), produzindo os primeiros discos do Talking Heads, os primeiros solos do Peter Gabriel, os discos mais importantes do U2 (Joshua Tree, Atchung Baby, etc), os últimos discos do Coldplay e mais um monte de outras bandas. Até o som que você escuta ao ligar seu computador (se estiver usando o Windows e estiver com o som padrão) foi o cara quem compôs... isso mesmo, o tal do Microsoft Sound foi ele quem compôs.)
Voltando aos querubins:
As tais instalações são uns anjos preenchidos em formas geométricas com cores vivas e na hora que eu bati o olho no primeiro deles a primeira coisa que me veio na cabeça foi... tá bom, a segunda coisa que me veio a cabeça (a primeira foi pensar: "que raios esse anjo psicodélico de 10 metros tá fazendo no meio da praça?") foi a capa do AGW, um detalhe da obra "After Raphael" do artista Tom Phillips, especialista em colagens e que já havia contribuído em algum filme do Peter Greenaway, além de ter sido professor do Eno na época em que este estudava na Ipswich School of Art.
Me lembro da primeira vez que eu escutei esse disco, uma das obras mais idiossincráticas de Mr. Eno. Estava estranhando demais o som da bolacha. Acostumado apenas com seu art-rock glam do Roxy Music e com suas duas primeiras excelentes investidas (Here Comes the Warm Jets e Taking Tiger Mountain) estava meio que sem entender o que tinham sido as duas primeiras faixas. Até que na terceira, chamada St. Elmo's Fire, me aparece aquela que eu considero uma das mais distintas guitarras do rock. Nem precisei olhar na contracapa do vinil o nome do responsável pela maravilha. Já virei pro meu pai e falei: "se isso não for o Fripp tocando, é alguém o imitando bem prá caramba!". Um solo melódico e maravilhoso que me fez querer viajar nos sons mais difíceis escondidos em cada uma das várias arestas desse disco.
Aos poucos, saquei que os dois primeiros do Eno foram mais ou menos como uma transição do som no formato pop/rock da era-Roxy para algo musicalmente mais complexo e discreto. Exemplo disto é que o disco contém 14 faixas, sendo apenas 5 com vocais, o que o torna bem menos acessível para uma grande quantidade de ouvintes. Na verdade com o AGW, na minha opinião, o lance do Eno foi tentar desconstruir a música pop e reconstruí-la novamente, de uma forma mais discreta, criativa e inusitada. Utilizando uma enorme gama de instrumentos e sonoridades, são criadas texturas até então nunca antes vistas na música pop.
Uma das principais sacadas do Eno no disco foi tentar subverter a idéia de existir um narrador, uma voz nas músicas. Ele já começa a primeira faixa, Sky Saw, fazendo uma alusão à esta idéia:
"All the clouds turn to words
All the words float in sequence
No one knows what they mean
Everyone just ignores them"
E logo na seqüência, emplaca a impagável seqüência non-sense:
"Mau Mau starter ching ching da da
Daughter daughter dumpling data
Pack and pick the ping-pong starter
Carter Carter go get Carter
Perigeeee
Open stick and delphic doldrums
Open click and quantum data"
O que nos primeiros discos, já dava um sinal do caminho que seria tomado por Eno, aqui fica claro. As letras simplesmente não fazem sentido algum. E isto tinha um motivo. O cara estava viajando mais no lance da fonética do que no da semântica, ou seja, se soava bem, está ok! Eram as palavras sendo incorporadas como notas de um novo inusitado instrumento.
Não vou ficar aqui destrinchando faixa por faixa, senão esse texto ficaria 13 vezes mais longo do que já está de tanta coisa que eu poderia falar só dos 1:28 segundos da faixa título.
O produto final é um rebento eletro-minimalista, de um artista que está se despregando dos conceitos vigentes da música pop e incorporando elementos dos experimentalismos de caras como John Cage, Karlheinz Stockhausen e Hugo Ball. Ou seja, o disco está no ponto de equilíbrio entre o pop e o experimental.
Se vocês curtem tanto rock and roll, quanto eletrônico (o cara é considerado um dos pais do gênero hein... talvez sem a contribuição dele, trances e raves poderiam ser bem diferentes...) tentem arrumar esse disco prá escutar: comprem, baixem, peguem emprestado ou roubem (que não seja o que tem lá em casa, blz?)!
Com certeza o Another Green World não é um disco que é facilmente digerido.Dificilmente vai lhe satisfazer na primeira audição. Mas quem disse que as melhores coisas são as que são fáceis de gostar e de entender? Tal qual um enorme quebra-cabeça, o disco exige paciência e concentração do ouvinte. Para que este consiga finalmente entrar em um delicioso caleidoscópio sonoro, onde um gênio nos convida para uma viagem introspectiva e sutil, na qual consegue, utilizando-se apenas de sons, pintar uma obra de arte.
por I’m Not (T)here
algumas curiosidades sobre o AGW:
- dá uma olhada em alguns dos caboclos que aparecem no disco:
John Cale (Velvet Underground)
Robert Fripp (King Crimson)
Phil Collins (Genesis)
- lista de instrumentos tocados no disco:
synthesizer, bass guitar, guitar, percussion, drum machine, various pianos, keyboards, hammond organ, farfisa organ, vocals(aqui são instrumentos sim!), yamaha bass pedals, tapes, viola, drums, fretless bass, fender rhodes piano, bass, snare drum
ainda tem a tal da Wimshurst guitar, aquela do Fripp a qual eu me referi lá em cima... o nome dela vem do Wimshurst Generator, um aparelho que gera uma corrente elétrica de alta voltagem entre eletrodos e emite um som imprevisível. Segundo o Eno era como o som dessa guitarra soava.
- o site especializado em indie rock Pitchfork Media colocou o disco no 10º lugar do seu Top 100 Discos dos anos 70. O disco também está na lista dos 500 melhores discos de todos os tempos da revista Rolling Stone, na posição 433.
- eu li um fã do Eno falando isso no site dele... é meio viagem mas até que achei bacana... ele fala que você pega aquela parte que protege o vinil, tira o vinil de dentro, e coloca a parada em cima da parte de trás da capa (a segunda imagem que eu coloquei lá em cima... uma foto com filtro verde do Eno lendo um livro (qual seria hein?), o Eno tá no canto e a maior parte da foto é uma parede). Essa parte que protege o vinil é preta e a única coisa da back cover que aparece é a parede verde, aí rola a viagem desse tal "Outro Mundo Verde"!
Um comentário:
Humm... depois vou procurar esse album pra entender melhor td isso q vc falou!! =)
Beijos!
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