Por diversos motivos, hoje eu decidi não fazer nada da minha monografia para escrever sobre música...
Aliás, hoje eu vou escrever sobre uma música em particular: "Oh Comely", a oitava faixa do "In Aeroplane Over The Sea", discaço do Neutral Milk Hotel. Na minha modesta opinião, o melhor disco dos anos 90.
A minha primeira incursão pelo som do NMH foi causada por uma cisma que eu tinha com o disco: ele era um dos 4 discos do Top 50 de Todos os Tempos do Rate Your Music que eu nunca tinha ouvido falar. Do Top 50, 28 discos estão na coleção lá de casa, e outros 18 eu já havia escutado ou pelo menos lido alguma coisa à respeito.
Dos 4 que eu nunca tinha escutado, dei uma pesquisada. 'Ilmatic', do Nas, liricista e um dos percussores do Hip Hop, não me interessei. 'Liquid Swords', disco de um dos membros do Wu-Tang Clan, também não quis saber mais. E a trilha sonora de 'Vertigo', filme de Alfred Hitchcock, composta por Bernard Herrmann, também não me chamou a atenção.
O que tinha sobrado era o disco de nome estranho, de uma banda com o nome mais estranho ainda e com uma capa que conseguia ser mais estranha que os dois juntos! Pesquisei alguma coisa sobre o disco e descobri que era sobre a vida da Anne Frank
(quem não conhece a história, o google ajuda!).
Fiz estas pesquisas e depois nunca mais me lembrei de olhar alguma coisa sobre a banda ou o disco. Até que meu irmão me apresentou o Beirut (outra belíssima banda) e descobri que alguns de seus membros vinham do Neutral Milk Hotel, daí a curiosidade não me deixou mais em paz.
Baixei o disco e estava curtindo prá caramba! Até que de repente, lá pelos 20 e poucos minutos de sons, aparece essa faixa. E essa foi daquelas que, como eu e meu irmão falamos, "te pega na esquina", de surpresa, e sua espinha congela e você lembra que é bom demais estar aqui prá escutar isso.
Depois de juntar os cacos, fui fazer a tradicional pesquisa sobre a história da música, um épico dramático de pouco mais de 8 minutos. Queria saber porque ela era a única desse tamanho no meio de tantas outras de 2, 3 minutos. Porque ela era tão mais intensa do que todas as outras juntas.
Fui descobrir que ela era um take para testar a microfonação do estúdio. Jeff Magnum, o líder e compositor do NMH entrou na sala de gravação e começou a tocar a música sozinho. E, por algum motivo desconhecido, ou por algum alucinógeno consumido ou por alguma força divina, o sujeito continuou e continuou e continuou a despejar, ao melhor estilo dylaniano, as palavras surreais e as dedilhadas no violão que compõem o quadro sonoro final. E, apesar dos simples acordes, a música vai te envolvendo.
Sabe quando algo te puxa e você vai se desligando de tudo? Pode ser algum acontecimento, alguma imagem, alguma pessoa, algum livro ou filme, qualquer coisa. Algumas músicas. Esta é assim e entrei de cabeça na alucinação lírica que ela é.
Em quantas canções de música pop já se viu aliterações do tipo:
"All of your friends are all letting you blow
Bristling and ugly
Bursting with fruits falling out from the holes
Of some pretty bright and bubbly friend"
Reparem no uso do B e do F.
Até cenas grotescas ganham um lirismo emblemático:
"Your father made fetuses
With flesh licking ladies
While you and your mother
Were asleep in the trailer park"
Alucinantes sobreposições de imagens:
"Thunderous sparks from the dark of the stadiums
The music and medicine you needed for comforting
So make all your fat fleshy fingers to moving
And pluck all your silly strings
And bend all your notes for me
Soft silly music is meaningful magical
The movements were beautiful
All in your ovaries
All of them milking with green fleshy flowers
While powerful pistons were sugary sweet machines
Smelling of semen all under the garden
Was all you were needing when you still believed in me"
Na minha opinião, a idéia central da música é falar de uma paixão perdida do narrador, que é o próprio Jeff, que por sua vez, faz a personificação desta pessoa na figura da Anne Frank. No final da música parece ficar claro isto, quando ele fala do final trágico da adolescente:
"And I know they buried her body with others
Her sister and mother and 500 families
And will she remember me 50 years later
I wished I could save her in some sort of time machine
Know all your enemies
We know who our enemies are"
Ele usa a alegoria da impossibilidade de rever alguém que morreu há 50 anos, para falar de algo mais pessoal, de um amor que ele teve, porém nunca mais vai poder voltar atrás. No final, ele finalmente percebe que ele era quem estava fazendo mal à ela, ele era o inimigo dela.
Aliás, hoje eu vou escrever sobre uma música em particular: "Oh Comely", a oitava faixa do "In Aeroplane Over The Sea", discaço do Neutral Milk Hotel. Na minha modesta opinião, o melhor disco dos anos 90.
A minha primeira incursão pelo som do NMH foi causada por uma cisma que eu tinha com o disco: ele era um dos 4 discos do Top 50 de Todos os Tempos do Rate Your Music que eu nunca tinha ouvido falar. Do Top 50, 28 discos estão na coleção lá de casa, e outros 18 eu já havia escutado ou pelo menos lido alguma coisa à respeito.
Dos 4 que eu nunca tinha escutado, dei uma pesquisada. 'Ilmatic', do Nas, liricista e um dos percussores do Hip Hop, não me interessei. 'Liquid Swords', disco de um dos membros do Wu-Tang Clan, também não quis saber mais. E a trilha sonora de 'Vertigo', filme de Alfred Hitchcock, composta por Bernard Herrmann, também não me chamou a atenção.
O que tinha sobrado era o disco de nome estranho, de uma banda com o nome mais estranho ainda e com uma capa que conseguia ser mais estranha que os dois juntos! Pesquisei alguma coisa sobre o disco e descobri que era sobre a vida da Anne Frank
(quem não conhece a história, o google ajuda!).
Fiz estas pesquisas e depois nunca mais me lembrei de olhar alguma coisa sobre a banda ou o disco. Até que meu irmão me apresentou o Beirut (outra belíssima banda) e descobri que alguns de seus membros vinham do Neutral Milk Hotel, daí a curiosidade não me deixou mais em paz.
Baixei o disco e estava curtindo prá caramba! Até que de repente, lá pelos 20 e poucos minutos de sons, aparece essa faixa. E essa foi daquelas que, como eu e meu irmão falamos, "te pega na esquina", de surpresa, e sua espinha congela e você lembra que é bom demais estar aqui prá escutar isso.
Depois de juntar os cacos, fui fazer a tradicional pesquisa sobre a história da música, um épico dramático de pouco mais de 8 minutos. Queria saber porque ela era a única desse tamanho no meio de tantas outras de 2, 3 minutos. Porque ela era tão mais intensa do que todas as outras juntas.
Fui descobrir que ela era um take para testar a microfonação do estúdio. Jeff Magnum, o líder e compositor do NMH entrou na sala de gravação e começou a tocar a música sozinho. E, por algum motivo desconhecido, ou por algum alucinógeno consumido ou por alguma força divina, o sujeito continuou e continuou e continuou a despejar, ao melhor estilo dylaniano, as palavras surreais e as dedilhadas no violão que compõem o quadro sonoro final. E, apesar dos simples acordes, a música vai te envolvendo.
Sabe quando algo te puxa e você vai se desligando de tudo? Pode ser algum acontecimento, alguma imagem, alguma pessoa, algum livro ou filme, qualquer coisa. Algumas músicas. Esta é assim e entrei de cabeça na alucinação lírica que ela é.
Em quantas canções de música pop já se viu aliterações do tipo:
"All of your friends are all letting you blow
Bristling and ugly
Bursting with fruits falling out from the holes
Of some pretty bright and bubbly friend"
Reparem no uso do B e do F.
Até cenas grotescas ganham um lirismo emblemático:
"Your father made fetuses
With flesh licking ladies
While you and your mother
Were asleep in the trailer park"
Alucinantes sobreposições de imagens:
"Thunderous sparks from the dark of the stadiums
The music and medicine you needed for comforting
So make all your fat fleshy fingers to moving
And pluck all your silly strings
And bend all your notes for me
Soft silly music is meaningful magical
The movements were beautiful
All in your ovaries
All of them milking with green fleshy flowers
While powerful pistons were sugary sweet machines
Smelling of semen all under the garden
Was all you were needing when you still believed in me"
Na minha opinião, a idéia central da música é falar de uma paixão perdida do narrador, que é o próprio Jeff, que por sua vez, faz a personificação desta pessoa na figura da Anne Frank. No final da música parece ficar claro isto, quando ele fala do final trágico da adolescente:
"And I know they buried her body with others
Her sister and mother and 500 families
And will she remember me 50 years later
I wished I could save her in some sort of time machine
Know all your enemies
We know who our enemies are"
Ele usa a alegoria da impossibilidade de rever alguém que morreu há 50 anos, para falar de algo mais pessoal, de um amor que ele teve, porém nunca mais vai poder voltar atrás. No final, ele finalmente percebe que ele era quem estava fazendo mal à ela, ele era o inimigo dela.
Voltando à performance: segundo relatos do engenheiro de som, quando Jeff terminou, todos os outros membros da banda e quem mais estava no estúdio olhava sem acreditar no que estavam vendo. No final dos oito minutos, todos aplaudiram de pé a performance do cara. Na versão final, apenas algumas cornetas foram adicionadas à este take. Ninguém com bom senso iria querer regravar aquilo novamente.
Realmente, os movimentos eram belos.
por I'm Not (T)Here
p.s. : no final dela ainda dá para você escutar, mesmo que muito baixo, alguém gritando 'Holly Shit!!', provavelmente não acreditando no que acabara de presenciar.
Download do disco
p.s. : no final dela ainda dá para você escutar, mesmo que muito baixo, alguém gritando 'Holly Shit!!', provavelmente não acreditando no que acabara de presenciar.
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