quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

“I love the way Eno can paint a picture with music”


Nessas últimas semanas do ano eu tenho visto algumas instalações nas praças de BH que me fizeram lembrar do Another Green World, disco lançado pelo multinstrumentista, produtor, criador das estratégias oblíquas, etc, etc, etc Brian Eno.

Parêntesis explicativo para quem até hoje achava que Eno era só um Sal de Fruta:
(Vale a pena correr atrás da obra do cara... pode ter certeza que muito do que vocês escutaram tem o dedo do cara no meio. Alguns exemplos? Os 2 primeiros Roxy Music, nos quais ele era membro da banda, a famosa Trilogia de Berlin do Bowie (Low, "Heroes" e Lodger), na qual ele compôs e tocou (aliás, ele praticamente mudou o som do Bowie), produzindo os primeiros discos do Talking Heads, os primeiros solos do Peter Gabriel, os discos mais importantes do U2 (Joshua Tree, Atchung Baby, etc), os últimos discos do Coldplay e mais um monte de outras bandas. Até o som que você escuta ao ligar seu computador (se estiver usando o Windows e estiver com o som padrão) foi o cara quem compôs... isso mesmo, o tal do Microsoft Sound foi ele quem compôs.)

Voltando aos querubins:
As tais instalações são uns anjos preenchidos em formas geométricas com cores vivas e na hora que eu bati o olho no primeiro deles a primeira coisa que me veio na cabeça foi... tá bom, a segunda coisa que me veio a cabeça (a primeira foi pensar: "que raios esse anjo psicodélico de 10 metros tá fazendo no meio da praça?") foi a capa do AGW, um detalhe da obra "After Raphael" do artista Tom Phillips, especialista em colagens e que já havia contribuído em algum filme do Peter Greenaway, além de ter sido professor do Eno na época em que este estudava na Ipswich School of Art.

Me lembro da primeira vez que eu escutei esse disco, uma das obras mais idiossincráticas de Mr. Eno. Estava estranhando demais o som da bolacha. Acostumado apenas com seu art-rock glam do Roxy Music e com suas duas primeiras excelentes investidas (Here Comes the Warm Jets e Taking Tiger Mountain) estava meio que sem entender o que tinham sido as duas primeiras faixas. Até que na terceira, chamada St. Elmo's Fire, me aparece aquela que eu considero uma das mais distintas guitarras do rock. Nem precisei olhar na contracapa do vinil o nome do responsável pela maravilha. Já virei pro meu pai e falei: "se isso não for o Fripp tocando, é alguém o imitando bem prá caramba!". Um solo melódico e maravilhoso que me fez querer viajar nos sons mais difíceis escondidos em cada uma das várias arestas desse disco.

Aos poucos, saquei que os dois primeiros do Eno foram mais ou menos como uma transição do som no formato pop/rock da era-Roxy para algo musicalmente mais complexo e discreto. Exemplo disto é que o disco contém 14 faixas, sendo apenas 5 com vocais, o que o torna bem menos acessível para uma grande quantidade de ouvintes. Na verdade com o AGW, na minha opinião, o lance do Eno foi tentar desconstruir a música pop e reconstruí-la novamente, de uma forma mais discreta, criativa e inusitada. Utilizando uma enorme gama de instrumentos e sonoridades, são criadas texturas até então nunca antes vistas na música pop.

Uma das principais sacadas do Eno no disco foi tentar subverter a idéia de existir um narrador, uma voz nas músicas. Ele já começa a primeira faixa, Sky Saw, fazendo uma alusão à esta idéia:

"All the clouds turn to words
All the words float in sequence
No one knows what they mean
Everyone just ignores them"

E logo na seqüência, emplaca a impagável seqüência non-sense:

"Mau Mau starter ching ching da da
Daughter daughter dumpling data
Pack and pick the ping-pong starter
Carter Carter go get Carter
Perigeeee
Open stick and delphic doldrums
Open click and quantum data"

O que nos primeiros discos, já dava um sinal do caminho que seria tomado por Eno, aqui fica claro. As letras simplesmente não fazem sentido algum. E isto tinha um motivo. O cara estava viajando mais no lance da fonética do que no da semântica, ou seja, se soava bem, está ok! Eram as palavras sendo incorporadas como notas de um novo inusitado instrumento.

Não vou ficar aqui destrinchando faixa por faixa, senão esse texto ficaria 13 vezes mais longo do que já está de tanta coisa que eu poderia falar só dos 1:28 segundos da faixa título.

O produto final é um rebento eletro-minimalista, de um artista que está se despregando dos conceitos vigentes da música pop e incorporando elementos dos experimentalismos de caras como John Cage, Karlheinz Stockhausen e Hugo Ball. Ou seja, o disco está no ponto de equilíbrio entre o pop e o experimental.

Se vocês curtem tanto rock and roll, quanto eletrônico (o cara é considerado um dos pais do gênero hein... talvez sem a contribuição dele, trances e raves poderiam ser bem diferentes...) tentem arrumar esse disco prá escutar: comprem, baixem, peguem emprestado ou roubem (que não seja o que tem lá em casa, blz?)!

Com certeza o Another Green World não é um disco que é facilmente digerido.Dificilmente vai lhe satisfazer na primeira audição. Mas quem disse que as melhores coisas são as que são fáceis de gostar e de entender? Tal qual um enorme quebra-cabeça, o disco exige paciência e concentração do ouvinte. Para que este consiga finalmente entrar em um delicioso caleidoscópio sonoro, onde um gênio nos convida para uma viagem introspectiva e sutil, na qual consegue, utilizando-se apenas de sons, pintar uma obra de arte.


por I’m Not (T)here


algumas curiosidades sobre o AGW:

- dá uma olhada em alguns dos caboclos que aparecem no disco:
John Cale (Velvet Underground)
Robert Fripp (King Crimson)
Phil Collins (Genesis)

- lista de instrumentos tocados no disco:
synthesizer, bass guitar, guitar, percussion, drum machine, various pianos, keyboards, hammond organ, farfisa organ, vocals(aqui são instrumentos sim!), yamaha bass pedals, tapes, viola, drums, fretless bass, fender rhodes piano, bass, snare drum

ainda tem a tal da Wimshurst guitar, aquela do Fripp a qual eu me referi lá em cima... o nome dela vem do Wimshurst Generator, um aparelho que gera uma corrente elétrica de alta voltagem entre eletrodos e emite um som imprevisível. Segundo o Eno era como o som dessa guitarra soava.

- o site especializado em indie rock Pitchfork Media colocou o disco no 10º lugar do seu Top 100 Discos dos anos 70. O disco também está na lista dos 500 melhores discos de todos os tempos da revista Rolling Stone, na posição 433.


- eu li um fã do Eno falando isso no site dele... é meio viagem mas até que achei bacana... ele fala que você pega aquela parte que protege o vinil, tira o vinil de dentro, e coloca a parada em cima da parte de trás da capa (a segunda imagem que eu coloquei lá em cima... uma foto com filtro verde do Eno lendo um livro (qual seria hein?), o Eno tá no canto e a maior parte da foto é uma parede). Essa parte que protege o vinil é preta e a única coisa da back cover que aparece é a parede verde, aí rola a viagem desse tal "Outro Mundo Verde"!

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Divagações Sobre a Atemporalidade

Outro dia estava navegando pelo Rate Your Music e vi algo que me deixou extremamente curioso e me fez pensar em algumas coisas. Como todo aficcionado por listas, fui dar uma olhada na de melhores discos por década (de 50 até a primeira do século 21).

A lista é baseada na nota que os leitores do site dão aos discos e provavelmente deve considerar também a quantidade de avaliações que o disco tem para ficar mais coerente. Se não me falha a memória, nos anos 50 era um Miles Davis, nos 60 o Revolver dos Beatles, nos 70 o Blood On The Tracks do Dylan, o Doolitlle do Pixies nos 80, o Ok Computer do Radiohead estava no topo dos 90 e para a minha surpresa, na primeira década desse século, o líder era o Live At Massey Hall do Neil Young!

Você pode perguntar: "Qual a surpresa? Um artista como o velho Neil não pode lançar um disco e estar no topo em pleno ano 2007?". Claro que pode, mas a minha surpresa é que o live é datado de 71! Isso mesmo! 36 anos depois de gravado, um disco vê a luz do dia e se torna um clássico instantâneo!

Alguns argumentariam que este não deveria ser considerado um disco desta década, mas isto pouco importa. O resultado desta votação (que não é encerrada, qualquer um pode entrar lá, avaliar qualquer disco e dar sua nota, fazendo com que o resultado esteja em constante mudança , mas é claro que com o tempo algumas tendências se confirmam) por si só já é impressionante. Basta imaginar se algum disco gravado hoje, por algum artista atual e lançado quase 4 décadas depois, estaria, em 2043, sendo considerado como o melhor da década de 40. Duvido muito.

Já ouvi muita gente chamando Neil Young de simplista e desleixado, mas e daí? O que temos que pensar é se seria possível a obra de um artista resistir tanto ao tempo assim? E mais: ser inovadora fora da sua época e, depois que tantas pedras rolaram, ser considerada a melhor obra da atual década?

A explicação para isto é a seguinte:

Este ano de 1971 viu a melhor fase da carreira de Neil Young, ele havia lançado o After The Gold Rush e preparava o Harvest, seu trabalho comercialmente mais bem sucedido, tanto que no próprio ao vivo, ele já revela alguns esboços do que viriam a ser alguns dos clássicos de Harvest (Old Man, A Man Needs a Made, Heart of Gold, The Needle and the Damage Done e There´s a World).

Até aí nada de novo. Mas experimente juntar a melhor fase de um artista com o fato deste artista ser um dos mais geniais da história da música! Aí você já chega em uma matéria bruta que tem o potencial de se desprender de sua época e que vai se transformar em um produto atemporal e que, por mais que o tempo insista em passar, nunca vai soar datado.

Alguns dos meus artistas favoritos já haviam provado que podem fazer isto: fazer algo à frente do seu tempo. Os discos do Velvet Underground fazem muito mais sucesso hoje do que na época de seus lançamentos, no final da década de 60. David Bowie faz tanto sucesso hoje quanto fazia antigamente, sempre se reinventando. Beatles e Stones são casos à parte, já que viraram ícones definitivos do universo pop.

Mas Neil conseguiu ser o mais brilhante artista em 2007 com algo feito em 1971! E isto não veio de graça. O cara é um dos que nos justifica quando falamos que rock and roll também é arte. Assim como as pinceladas de um artista sobre uma tela que pode vir a ser uma valiosa obra de arte anos depois, são os dedilhados de Young em seu violão, são os seus dedos correndo pelo piano, é a sua voz resmungando baixo entre uma canção e outra, é a sua voz transbordando emoção ao cantar a sua alma em cada uma das músicas. E, tocando sozinho naquela noite, Neil Young fez uma obra de arte. Ou melhor, ele mostrou uma obra de arte: ele mostrou a sua alma.

por I'm Not (T)here

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Inicio!



Bom dia a todos! Este é meu primeiro post, e gostaria de desejar longa vida a este blog! Assuntos como Musica, Cinema, Literatura ou oque der na telha serão abordados diariamente pelos melhores escritores de nosso pais!

Em meu primeiro post vou escrever sobre uma nova descoberta minha, a banda LEAF HOUND, com o disco GROWERS OF MUSHROOM de 1971!
A banda é formada por : Peter French (Vocals); Mick Halls (Lead Guitar); Derek Brooks (Guitar); Stuart Brooks (Bass); Keith George Young (Drums) e os caras mandam um som visivelmente influenciado por led zeppelin com pitadas do bom e velho sabbath. A banda surgiu do falecido Black Cat Bones, banda de Blues Rock do final dos anos 60 onde tocaram os irmãos Brooks com o recém falecido Rod Price, do Foghat e também do Brunning Sunflower Blues Band de Peter French e Mick Halls. Ja como o quinteto LEAF HOUND, a banda lança o incrivel GROWERS OF MUSHROOM! infelizmente a banda não durou muito, e Peter French seguiu para o Atomic Rooster e participando de discos do cactus!
Vale a pena escutar!

Download do disco GROWERS OF MUSHROOM http://www.torrentbox.com/torrent_details?id=113198&uploaded=1